domingo, 20 de fevereiro de 2011

Analisando Amor em 04 atos.


O intuito de analisar a série Amor em 04 atos, mesmo sendo uma serie de capítulos fechados, se deve a um fator muito simples. Eu adoraria adaptar uma música. Acho sensacional a idéia. O sentimento posto em uma música, uma boa música claro, longe do padrão musical comercial que vemos hoje no Brasil, é sempre um desafio de transpor para ao meio audiovisual, e isso me fascina.
A série passou no mês de Janeiro, já agora em 2011. Com isso faço um grande pulo temporal aqui no blog, entre as séries que analiso. Como sou dado, e aprecio a falta de temporalidade dentro de uma narrativa, então será algo que ocorrerá com certa freqüência, creio que a próxima analise seja algo anterior a esta. Veremos. Visando dirimir dúvidas, observemos a diferença entre falta de temporalidade dentro da narrativa e temporalidade narrativa. O primeiro corresponde ao tempo como interpretamos, o nosso conceito de tempo contínuo, que dentro de uma narrativa pode ser visualizado de diversas formas. Desde o tempo real, onde cada segundo representa um segundo real dentro da narrativa, até o tempo invertido, que conforme avança a narrativa o tempo recua, como ex. Amnésia. Já a temporalidade narrativa consiste no tempo em que a narrativa é contada. Sendo mais uma ferramenta utilizada, que subdivide-se em outras ferramentas, como o flashback, a elipse temporal, o tempo inverso etc.
A série foi dividia em 04 episódios, contendo 03 estórias, já que os dois últimos episódios, Folhetim e Vitrines, são contínuos. Não vou me deleitar aqui sobre a obra homenageada de Chico, acredito que isso daria um post inteiro, principalmente tendo em vista que a atualidade da música brasileira, por ora basta apenas dizer que sou fã de algumas músicas suas, não todas.
O conjunto da obra ficou muito bom, belo e bem escrito. Lógico há sempre algumas melhorias. Mas creio que fora utilizado um bom grupo de roteiristas para fazer essa transposição entre as mídias. Sabendo que há sempre diferenças de interpretação de um roteirista para outro, tentarei aqui falar apenas das ferramentas narrativas. A intenção de construir obras distintas, tendo com único vínculo a origem, trás facilidades, contudo reduz possibilidades e perspectivas.
Acredito ser esse o meu único porém a série como um todo. Gostaria de ver uma obra mais orgânica, moldada em uma única estória, mas com perspectivas e pontos de vistas diferenciados, trazendo assim as músicas à vida. Com as estórias se cruzando em um mesmo universo, porém sem interferências entre elas, ou com, dependendo do interesse narrativo.
Ente os episódios, o primeiro acho que foi o mais simplório. A utilização de uma narração em off, deixou muito didático, tirando possibilidade interpretativa do espectador. A narração em off é uma ferramenta muito delicada, grande parte dos atuais gurus de roteiros sempre dizem para não utilizá-la. Por sua delicadeza é muito mais fácil, erra abruptamente do que acertar, no episódio foi utilizada de forma inadequada.
Para melhor entendermos, devemos então entender para que serve uma ferramenta narrativa. Serve para trazer ao espectador a estória a tona, seja ela mostrada, contada, ou insinuada. Entretanto se a estória já está sendo mostrada, não há necessidade de que ela seja contada. Ou seja, se você mostra um personagem se levantando, não tem necessidade de entrar uma narração dizendo;
- Agora eu me levanto.
É redundante, além de obvio.  Sua utilização então, se presta melhor a seguir um caminho diferente das imagens mostradas, trazendo ao espectador uma informação diversa da que ele já tem. Assim na mesma cena do rapaz levantando, uma narração que complemente a informação de conhecimento sobre ele, ou algo diverso, dependendo do ponto narrativo em que se está. Como ex;
- Ai, que dor de cabeça, que ressaca!
Dor é algo que é muito difícil de mostrar, necessitando, um conjunto de cenas anteriores para que se possa compreender, logo se você necessita agilidade na apresentação dos seus personagens, a narração em off é uma boa ferramenta a utilizar, contanto que não seja de forma redundante.
Voltando ao episódio, teve uma final interessante, e de certo modo surpreendente, ao trazer uma pouco de metalinguagem.
O segundo episódio me pareceu dentro de um campo de conforto para alguns roteiristas globais, porém isso não chega a ser um demérito. O episódio, porém, traz um dos melhores conjuntos de diálogos de toda a série. Principalmente as cenas iniciais da briga do casal. Pegando carona neste fato, onde assuntos presentes e passados são sempre jogados a tona, cria-se ali toda a estória pregressa do casal e do perfil de cada um dos personagens principais. É com certeza uma lição e um exemplo para qualquer roteirista de como utilizar bem a ferramenta do diálogo.
Alias todo o episódio é bem elaborado narrativamente. As cenas e a tensão crescentes estão num tom perfeitos. É para mim o melhor episódio da série. Ao observamos como a construção psicológica dos personagens é desenvolvida, vê-se que todas as ferramentas narrativas, todos os diálogos, todos os personagens secundários, estão ali única e exclusivamente para dar andamento a essa estória, que envolve os dois protagonistas. Assim, todas as cenas tem o intuito de impulsionar isto, criando o ambiente conflitante necessário.
A última estória, composta nos dois últimos capítulos exemplifica aquela possibilidade que mencionei acima, sobre a estória ser um todo, contato em diferentes perspectivas. Confesso que Folhetim era para mim o episódio mais esperado.
Aqui entrarei também um pouco no conteúdo da estória. Algumas das melhores características do segundo episódio (Meu único defeito foi não saber ter amar melhor), a tensão crescente e a melhor exploração psicológica dos personagens, são o que faltam neste. Como exemplo, podemos trazer a personagem Selma (Camila Morgado), que entra e sai do episódio, sem muito propósito a não ser terminar a relação com o puritano Ary (Vladmir Brichita). Essa relação mostra exatamente o não aproveitamento de personagens e o não desenvolvimento narrativo deles. Ary é mostrado como um rapaz santo, quase padre. Tentando salvar seu casamento com uma doida, pois é como a personagem é personificada, sem motivos aparentes está em depressão e sem qualquer razão, pelo que conta a estória, acredita que Ary é infiel.
Quem já conviveu com alguém deprimido, sabe que há uma diferença muito grande entre alguém assim e alguém que perdeu o juízo. Geralmente a pessoa deprimida não tem amor próprio, com isso passa a desconfiar do outro, porém não é capaz de se desvencilhar da relação. Já a personagem Selma é mostrada mais como uma pessoa paranóica, que acredita em coisas que não aconteceram. Seria interessante então entender um pouco dessa dinâmica deles, as razões dessa desconfiança em cima de Ary e se ele é realmente tão santo quanto demonstra. Isso enriqueceria os personagens e traria sentido à personagem Selma. Outro ponto; em qualquer um dos casos, depressiva ou paranóica, uma pessoa dessas nunca se desvencilha tão rápido da outra. Dessa mesma forma outros personagens aparecem na trama, alguns com subtramas paralelas que nada acrescentam à principal.
Porém o maior defeito do episódio é a enorme oportunidade de rever, a canção. Não que eu creia que haja nada errado com ela, mas convenhamos que a época em que foi escrita e a realidade atual são divergentes. A canção não diz claramente que a moça é um prostituta, mas deixa a entender, um caso de interpretação. Hoje em dia, homens e mulheres estão mais igualitários no que diz respeito a relacionamentos furtivos. Historicamente confundir sexo com amor sempre foi uma característica feminina, aqui poderia ter sido feito uma brincadeira nesse sentido. Um bom rapaz, saído de um relacionamento longo, deparar-se com a realidade onde mulheres também saem à noite para caçar tanto quanto os homens, sem maiores apegos. Ele se vê perdido. Mas aqui estou eu entrando na questão de interpretação a qual mencionei antes.
O último episódio sofre da sequência do primeiro. A necessidade de humanizar a estória da prostituta e a resolução simplória do caso Selma enfraquecem o episódio. Com os personagens iguais mantém-se as mesmas fraquezas na evolução deles. A subtrama aqui ganha mais importância, chegando quase a eclipsar a principal, porém sua existência ainda carece de necessidade, pois nada acresce a trama principal. O episódio porém tem um final razoável e digno pelo que mostrou, sendo uma boa sequência para o primeiro.
Interessante analisar a forma como os episódios foram concebidos, pois a origem em comum desses episódios vem de uma pessoa que sempre prezou pela forma em sua narrativa, no caso musical. Creio que deveríamos seguir esse apreço também.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Analisando A Cura – 2ª parte

A estória de Dimas como nos é apresentada traz a seguinte situação. Dimas nasceu com um poder anormal de curar outras pessoas. Por mais que não possa dominar isso, sente este poder fluir desde cedo. As pessoas na cidade temem o seu poder, principalmente os poderosos, pois outra pessoa já havia manifestado essas mesmas habilidades. E é aqui que mora o problema. O seriado passa metade de sua existência criando essa problemática. Abra-se todo um cabedal de antagonista e toda uma estória pregressa baseada nessa outra pessoa que detinha esses poderes. E entre todas as argumentações utilizadas, a mais batida, é de que muitas pessoas, milhares, como disse um dos personagens, vinham de outra cidades para se curarem.
É dada, então, a informação de que a cidade foi transformada de maneira negativa, pelo poder de curar que o personagem Otto possuía. E foi essa uma das maiores razões para se combater na época o Otto e consequentemente o Dimas. Alias a única por um tempo. Cria-se então toda uma mitologia a respeito dessa situação e do poder de curar, que hoje é apresentado pelo Dimas, mas que anteriormente fora apresentado por Otto. O espectador então passa a acreditar nessa mitologia estabelecida pela própria série tomando isso como verdade, dentro daquele universo.
E é justamente ai onde reside a quebra de confiança. Pois ao ser confrontado por Dimas, Otto revela que nunca possuiu o poder de curar. Logo, todo o propósito e a mitologia inicial em que toda a série foi baseada tornam-se irreais. Com a descontinuação, e não cabe aqui uma desconstrução, pois isto ocorreria se os preceitos da mitologia estabelecida estivessem sido respeitados, a afirmativa de Otto passa a ser a negação de tudo que fora dito antes. Tendo em vista que se nunca pode curar não haveria como ele enganar milhares de pessoas, pelo menos não da maneira com é retratado na série. Aqui incluímos um ponto, licença poética caracteriza-se pelo intuito de suprimir a realidade, ou parte dela, em determinado momento, como ferramenta narrativa, ou seja, em uma estória romântica, você faz alguém chegar  em São Paulo, partindo do Rio de Janeiro, mais rápido indo de carro do quê de avião, para que você possa ter o encontro dos dois no aeroporto de São Paulo, onde irão se reencontrar e ficarem juntos. É sabido que isso seria quase impossível, porém dentro da sua estória você cria justificativas, como o fato dele ser piloto e ter uma Ferrari, para poder ter a cena descrita. Isso é uma licença poética, que deve ser previamente construída. Em prol do reencontro dos pombinhos no aeroporto você solicita que o público acredite que aquilo é possível.
Por tratar-se de uma série com realidade fantástica, já fica obvio que haverá algumas dessas licenças. A problemática reside no momento em que é solicitado que você acredite que milhares de pessoas foram enganadas, e ficaram de tal modo agradecidas, que fizeram “doações” para o enganador. É gerado então o paradoxo de que se Otto não tinha poderes, toda a estória pregressa não pode existir e se ele tem, ou teve, toda a estória a posteriori prejudicada. Pois o mesmo afirma que nunca possuiu poderes, e só quem os possui é Dimas.
Aqui, como por vezes tratado em toda série, utilizou-se da solução mais simplista e menos criativa. Ao optar para que a grande revelação da série fosse que Dimas é a reencarnação de Ezequiel e Otto de Silvério, optou-se pelo arco mais simplista dentro de uma estória com possibilidades grandiosas. De mesma forma que a configuração de mistérios onde os arcos narrativos ficam em abertos, sem resolução, é  deveras fraca, por vezes preguiçosa.
Ao propor contar uma estória, as pessoas ouvintes ou espectadores, caso, querem saber o que irá acontecer com essa estória, com os personagens. Qual a resolução dela. Daí se essa resposta gerar outras perguntar, este já será tema para uma nova estória, sendo assim um segundo arco, interligados pelo cerne que são os personagens passando pelas situações propostas. No caso analisado ocorre que a estória não chega ao seu fim. Ou para não ser tão ortodoxo, teve um final insatisfatório como que foi apresentado.
Respondendo a pergunta que não foi feita. Ficaria melhor para a série se ela estabelecesse que Otto perdeu seus poderes quando Dimas nasceu, resolveria ai outra questão, que é a de como ele já conhecia os poderes de Dimas. Se já vinha acompanhando ele quando estudava em São Paulo, poderia ter aproximado-se dele lá. O que traria uma situação muito interessante a ser trabalhada. De mesma forma, que se Otto perdeu seus poderes, fora porque uso-os de forma inadequada, pois ficara embriagado por eles. Como aparece em certos momentos da série. Com isso criar-se-ia o embate entre os dois com a necessidade de Otto tentar resgatar os poderes dele. Como dito, dentro dessa área há uma infinidade de caminhos a seguir, por vezes, infelizmente, os seguidos foram os atalhos mais fáceis. Espera-se que para a segunda temporada, já programada, possam corrigir esses erros. Para mim a melhor pergunta que podemos estabelecer é, como Dimas irá reagir agora que sabe ter poderes? O que acham?

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Analisando A Cura - 1a Parte.

 O seriado A Cura passou na Rede Globo de televisão entre setembro e outubro de 2010, ainda sim resolvi iniciar com ele, pois foi um dos primeiros seriados a querer seguir uma proposta diferenciada das ocorridas até então. Todos os seriados brasileiros seguiam um arco dramático que tinha inicio e fim no próprio episódio, sem uma evolução sistemática desse arco entre os episódios de uma temporada ou até mesmo entre as temporadas. De fato isto ainda é muito comum em séries no mundo todo, quem exponenciou o arco dramático através das temporadas foi Lost, antes disso já ocorria, mas sem tanto alarde. Desde então um turbilhão de séries passaram a seguir este caminho.
Pode-se alegar que algumas minisséries globais já traziam um arco dramático que abrangia todo o conjunto da obra, porém, há ai uma grande diferença, pois uma minissérie é um produto de reprodução diária, como novelas, ao contrário de seriados que passam semanalmente. Isto cria um tipo de acompanhamento diferenciado, o espectador do seriado precisa de uma atenção e um acompanhamento maior do mesmo, não obstante também é um espectador mais fiel, visto que a reprodução semanal auxilia neste fato. É também um espectador mais atento e mais exigente com o produto. A narrativa diferenciada da noveleira e a direção mais arrojada aproximam mais um seriado ao cinema do que da televisão. Aqui no Brasil entretanto, por utilizarem escritores habituados a televisão a fronteira dos seriados cruza com mais freqüência o campo da novela.
É interessante aqui fazermos uma pequena distinção, que poderá ser mais elaborada em um próximo post, sobre os tipos de narrativa mais adequados para cada uma. Todos esses citados são por definição produtos audiovisuais e como tal deve mostrar uma estória ao invés de contar. Esta afirmação aprece simples, porém na prática não é o que vemos. Nas novelas principalmente, os personagens falam mais os acontecimentos, do que o aparecimento deles em si. Como exemplos têm-se a máxima que em novela um personagem morre três vezes. Primeiro o assassino avisa que vai matá-lo, depois efetua o disparo, depois repete para si mesmo, ou para outrem, que o matou. Além dos personagens muletas-dramáticas, que são aqueles personagens que tem por função contar a estória a outros personagens, logo também ao espectador.
Isto ao contrário do que alguns podem está achando não é um demérito das novelas. Se levarmos em conta a narrativa longa, vários meses, e sua exibição diária, que pode impossibilita o acompanhamento de todos os capítulos da obra, fazem essas ferramentas necessárias, mesmo sendo pouco criativas.
Já no cinema o lema do mostrar ao invés de contar torna-se mais sólido. Tendo em vista sua reprodução média de duas horas, aliados a uma condição de atenção total a tela dentro de uma sala escura, cria uma imersão maior na trama, que é complementada pela a estória mais mostrada do que falada. Com a atenção do espectador voltada 100% para exibição, pode-se explorar mais as ferramentas narrativas.
Em um seriado fica-se no meio do caminho. Certas estórias requerem mais uma narrativa cinematográfica, outras mais noveleira. Como ocorre em tudo na vida, achar o ponto dessa equação para a estória é o segredo.
Todo esse prólogo foi necessário para dizer que a meu ver, foi justamente esse o erro de A Cura. Para me preservar do xiitismo que algumas séries causam em seus expectadores, faço aqui um adendo, ao dizer que houve erro no modo narrativo da série, não estou dizendo que ela foi ruim, mas que poderia ser bem melhor se a narrativa fosse mais trabalhada.
Comecemos então. A Cura se dispôs a querer ser a primeira séria de arco dramático de forma continuo da televisão. Ao criar uma estória de mistério tentou ser uma espécie de Lost brasileira. Foi de fato muito pretensiosa, o que é bom. Acho realmente que devemos ser pretensioso e mirar grandes objetivos, para tudo é necessário se preparar para isso, aqui sim acho que houve falha.
Ao nos contar a estória de Dimas, garoto do interior de Minas Gerais, que nasceu com um dom incomum, A Cura lança uma base para um realismo fantástico, o que é um campo excelente. E construiu uma base muito boa para isso em seus primeiros episódios, pena não ter conseguido se segurar nessa base ao final. Deixando várias pontas soltas. E aqueles que dizem que é uma estória com final aberto, digo que há uma enorme diferença em uma estória com final aberto e uma sem final.
Para tanto devo dizer o que é o conceito de um arco dramático; é o desenrolar da estória, é o caminho pelo qual o protagonista irá passar no decorrer dela. Independente de quantos atos tiver ou dos pontos de viradas, o arco é em si o desenrolar da estória é sobre ele que incide a força narrativa. Voltemos ao começo da séria para poder chegar a essa conclusão.
A estória de Dimas é excelente, é em suma uma jornada do herói. E há nela um monte de predicados para isto. O herói que enfrenta seus medos e anseios para ajudar os outros. Particularmente adoro esse tipo de estórias, há um campo grande de trabalhos narrativos nelas.
Encontramos Dimas quando este está regressando para sua cidade natal, Diamantina. Não tarda entendemos os motivos de sua partida e de seu regresso. E nos deparamos com o primeiro mistério em torno dele, a morte de seu amigo. Acusado de ter sido o assassino do garoto Dimas demonstra sentir culpa pelo ocorrido. Da mesma forma que a mãe do garoto assassinado mostra conservar um ódio enorme por ele, atenção a este fato, pois é um dos pontos que utilizaremos mais a frente.
A partir daí conhecemos o triangulo amoroso que se formará, como também os supostos antagonistas. Faça-se então a primeira base de trabalho, Dimas é um “estranho no ninho” em sua própria cidade. Rejeitado e temido por muitos. Ainda no ínicio conhecemos a estória paralela, que o autor resolve ter como seu grande plot para essa temporada. Iniciada assim a estória de Silvério e Ezequiel. Também entramos em contato com o personagem mais inútil de toda a trama, Nonoca. Travestida de alívio cômico da série, na verdade era uma muleta-narrativa para contar as histórias dos passados dos personagens.
Não sei se por tempo/valor de produção, ou de exibição. Mas fiquei com a sensação de que a trama era mais longa e foi encurtada. Vos digo o por quê.
A série tem boa sacadas visuais e boas construções das bases da estória, mas derrapa na fase final, no desenrolar dessa estória, utilizando recursos narrativos inadequados e sem necessidades, além de em muitos casos serem pouco criativos.
Como já dito anteriormente, temos a primeira demonstração disso na personagem da Nonoca, que tem o único intuito de contar as entrelinhas da estória e o passado dos personagens, além de dizer ao espectador qual o caminho que ele deve seguir. O que tira um pouco a graça da estória. Volta-se ao ponto da necessidade de contar a estória ao invés de mostrá-la. Isto é um recurso claro para auxiliar a desvendar situações. O que acaba criando em certos momentos um engodo. Como na cena do flashback de Wesley, onde cada fotograma do flashback é prontamente narrado pela muleta de plantão, vemos então o acontecer da cena e o narrar da cena, como se nós, enquanto espectadores, não conseguíssemos entender o que se passa. Isto acaba se repetindo corriqueiramente na série.
Porém de todos os deslizes da estória o fato de mentir para seu público, gerando assim a quebra de confiança entre um e outro, é sem dúvida, o grande demérito de toda a série. 
Vejamos, uma série de mistérios deve sim induzir seu público a acreditar que o caminho é um quando na verdade é outro. Mas induzir não quer dizer mentir. É como se fosse um labirinto escuro, e nós os roteiristas vamos conduzindo os espectadores através dele, pouco a pouco, mostrando uma luz aqui outra ali, um barulho, tudo que estiver em nosso alcance para fazer ele perceber onde é a saída. E ao final, ascendemos à luz para que ele veja tudo o que passou, claro que isso é opcional, eu não acenderia. Há nisso uma relação de confiança, o espectador confia em nós enquanto seu guia. O que aconteceria então se sem ele saber nós colocássemos vários espelhos dentro desse mesmo labirinto e ascendemos as luzes dos espelhos. Levando-os a colidirem com esses espelhos. Perderíamos sua confiança. É isso que a série faz.
Não vou aqui encher de perguntas para demonstrar as pontas soltas, para não ser acusado de estar falando de uma obra sem final, onde os mistérios ficaram para serem respondidos na próxima temporada. De antemão digo apenas que deixar um arco dramático em aberto é uma maneira, muito pouco criativa de criar mistérios. Mas demonstrarei, dentro do arco dramático posto na própria temporada como houve essa quebra.