terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Analisando A Cura – 2ª parte

A estória de Dimas como nos é apresentada traz a seguinte situação. Dimas nasceu com um poder anormal de curar outras pessoas. Por mais que não possa dominar isso, sente este poder fluir desde cedo. As pessoas na cidade temem o seu poder, principalmente os poderosos, pois outra pessoa já havia manifestado essas mesmas habilidades. E é aqui que mora o problema. O seriado passa metade de sua existência criando essa problemática. Abra-se todo um cabedal de antagonista e toda uma estória pregressa baseada nessa outra pessoa que detinha esses poderes. E entre todas as argumentações utilizadas, a mais batida, é de que muitas pessoas, milhares, como disse um dos personagens, vinham de outra cidades para se curarem.
É dada, então, a informação de que a cidade foi transformada de maneira negativa, pelo poder de curar que o personagem Otto possuía. E foi essa uma das maiores razões para se combater na época o Otto e consequentemente o Dimas. Alias a única por um tempo. Cria-se então toda uma mitologia a respeito dessa situação e do poder de curar, que hoje é apresentado pelo Dimas, mas que anteriormente fora apresentado por Otto. O espectador então passa a acreditar nessa mitologia estabelecida pela própria série tomando isso como verdade, dentro daquele universo.
E é justamente ai onde reside a quebra de confiança. Pois ao ser confrontado por Dimas, Otto revela que nunca possuiu o poder de curar. Logo, todo o propósito e a mitologia inicial em que toda a série foi baseada tornam-se irreais. Com a descontinuação, e não cabe aqui uma desconstrução, pois isto ocorreria se os preceitos da mitologia estabelecida estivessem sido respeitados, a afirmativa de Otto passa a ser a negação de tudo que fora dito antes. Tendo em vista que se nunca pode curar não haveria como ele enganar milhares de pessoas, pelo menos não da maneira com é retratado na série. Aqui incluímos um ponto, licença poética caracteriza-se pelo intuito de suprimir a realidade, ou parte dela, em determinado momento, como ferramenta narrativa, ou seja, em uma estória romântica, você faz alguém chegar  em São Paulo, partindo do Rio de Janeiro, mais rápido indo de carro do quê de avião, para que você possa ter o encontro dos dois no aeroporto de São Paulo, onde irão se reencontrar e ficarem juntos. É sabido que isso seria quase impossível, porém dentro da sua estória você cria justificativas, como o fato dele ser piloto e ter uma Ferrari, para poder ter a cena descrita. Isso é uma licença poética, que deve ser previamente construída. Em prol do reencontro dos pombinhos no aeroporto você solicita que o público acredite que aquilo é possível.
Por tratar-se de uma série com realidade fantástica, já fica obvio que haverá algumas dessas licenças. A problemática reside no momento em que é solicitado que você acredite que milhares de pessoas foram enganadas, e ficaram de tal modo agradecidas, que fizeram “doações” para o enganador. É gerado então o paradoxo de que se Otto não tinha poderes, toda a estória pregressa não pode existir e se ele tem, ou teve, toda a estória a posteriori prejudicada. Pois o mesmo afirma que nunca possuiu poderes, e só quem os possui é Dimas.
Aqui, como por vezes tratado em toda série, utilizou-se da solução mais simplista e menos criativa. Ao optar para que a grande revelação da série fosse que Dimas é a reencarnação de Ezequiel e Otto de Silvério, optou-se pelo arco mais simplista dentro de uma estória com possibilidades grandiosas. De mesma forma que a configuração de mistérios onde os arcos narrativos ficam em abertos, sem resolução, é  deveras fraca, por vezes preguiçosa.
Ao propor contar uma estória, as pessoas ouvintes ou espectadores, caso, querem saber o que irá acontecer com essa estória, com os personagens. Qual a resolução dela. Daí se essa resposta gerar outras perguntar, este já será tema para uma nova estória, sendo assim um segundo arco, interligados pelo cerne que são os personagens passando pelas situações propostas. No caso analisado ocorre que a estória não chega ao seu fim. Ou para não ser tão ortodoxo, teve um final insatisfatório como que foi apresentado.
Respondendo a pergunta que não foi feita. Ficaria melhor para a série se ela estabelecesse que Otto perdeu seus poderes quando Dimas nasceu, resolveria ai outra questão, que é a de como ele já conhecia os poderes de Dimas. Se já vinha acompanhando ele quando estudava em São Paulo, poderia ter aproximado-se dele lá. O que traria uma situação muito interessante a ser trabalhada. De mesma forma, que se Otto perdeu seus poderes, fora porque uso-os de forma inadequada, pois ficara embriagado por eles. Como aparece em certos momentos da série. Com isso criar-se-ia o embate entre os dois com a necessidade de Otto tentar resgatar os poderes dele. Como dito, dentro dessa área há uma infinidade de caminhos a seguir, por vezes, infelizmente, os seguidos foram os atalhos mais fáceis. Espera-se que para a segunda temporada, já programada, possam corrigir esses erros. Para mim a melhor pergunta que podemos estabelecer é, como Dimas irá reagir agora que sabe ter poderes? O que acham?

Um comentário:

  1. olá!

    Parabens pelo blog.

    Excelente a análise da série. Também me fiz vários desses questionamentos. Mas no geral achei a obra interessante. Foi um sopro de novidade no universo das séries brasileiras. E mais uma vez com João Emanuel Carneiro, que já havia inovado na novela "A Favorita". Que venha essa nova safra de escritores, porque esta que está no auge, é de dar sono... Com excessão de Aguinaldo Silva,que também agradou ao público com sua "Cinquentinha" e agora promete mais com "Lara com Z".

    abraço

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